terça-feira, 18 de novembro de 2008

Operação Desvio Padrão

Sempre que a Polícia Federal se prepara para alguma ação, fico imaginando que a maior parte do tempo dedicado a determinada investigação, é consumida pela elaboração do nome que será dado à mesma. Pensando nisso e no desenrolar da tal Operação Satiagraha, pensei no nome acima para a ação que a PF desenvolve neste momento, investigando o investigador — o tal Protógenes. Acho que esse fica melhor que "Operação Abafa" ou "Operação Bota no Dele e Tira do Nosso" ou por aí afora.
Confesso que tenho ficado atônito. Já sabia da capacidade de nossos "líderes" — seja de oposição ou de situação — de desviar a atenção dos fatos e da inestimável ajuda prestada por nossa Imprença nesses casos (antes de reclamar da ortografia, leia o post A Nova Farda do Condor, lá embaixo...). Mas o tamanho da cortina de fumaça armada para desviar o foco das investigações sobre as operações do DD, me deixou de queixo caído.
Só pra exemplificar, ontem no Jornal da Globo a notícia era de que a fita com a conversa entre Protógenes e a cúpula da PF, dava a entender que ele sabia que no STF gestava-se um Habeas Corpus prá aliviar a vida do DD. A conclusão apresentada por esta e outras Imprenças (e todas as declarações "enfurecidas e indignadas" vindas dos três poderes) levam aos mais desavisados a acreditar que o problema central está na possibilidade de "grampo" ou investigação em alguns dos três Poderes.
Mas, o fato é que o Protógenes estava certo!!! Ao que tudo indica havia sim um HC sendo preparado, antes da prisão de DD ser decretada. Isso não se investiga? Não, aqui não se investiga.
Esta era para ser uma investigação exemplar, nos moldes da Operação Mão Limpas da Itália (que debilitou, durante algum tempo, a ação das Máfias italianas), mas parece que vai acabar embaixo do tapete e, se o homem não tomar cuidado, com algum Delegado preso no lugar do bandido.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Mercado? Quem é o Mercado?

Lá pelo final dos anos 80 e início dos 90 do século passado caiu o Muro de Berlim. Verdadeira "maravilha arquitetônica" a coroar a imbecilidade da burocracia Soviética e de seus asseclas. O fim daqueles Estados, deve-se mais a estupidez e brutalidade de seus dirigentes, do que à habilidade do ocidente em derrubá-lo.
Mas como já diria Hagar, o Horrível: "Não basta derrotar seu inimigo, é preciso humilhá-lo!" E, apesar de não serem os artífices da debacle soviética, os neo-liberais espalhados pelo mundo não demoraram em anunciar o "Fim das ideologias", "A morte do socialismo", "A vitória da democracia ocidental" e por aí vai...
Quase 20 anos depois, bastou um mês de crise nas bolsas para demonstrar que os vitoriosos não estavam com essa bola toda...
O que virá a seguir? Sinceramente não sei, mas ver o governo do Estados Unidos tornando-se acionista de bancos privados para salvá-los da bancarrota é deveras engraçado!

Abaixo reproduzo um trecho de "O Capital" (Capítulo 30, Vol. 3), escrito por Karl Marx, em meados do século XIX. Faça um exercício ao lê-lo: tente abstrair a data em que foi escrito e faça de conta que foi ontem... Pense no resultado.

"Em um sistema de produção em que toda a trama do processo de reprodução repousa sobre o crédito, quando este cessa repentinamente e somente se admitem pagamentos em dinheiro, tem que produzir-se imediatamente uma crise, uma demanda forte e atropelada de meios de pagamento.

Por isso, à primeira vista, a crise aparece como uma simples crise de crédito e de dinheiro líquido. E, em realidade, trata-se somente da conversão de letras de câmbio em dinheiro. Mas essas letras representam, em sua maioria, compras e vendas reais, as quais, ao sentirem a necessidade de expandir-se amplamente, acabam servindo de base a toda a crise.

Mas, ao lado disto, há uma massa enorme dessas letras que só representam negócios de especulação, que agora se desnudam e explodem como bolhas de sabão, ademais, especulações sobre capitais alheios, mas fracassadas; finalmente, capitais-mercadorias desvalorizados ou até encalhados, ou um refluxo de capital já irrealizável. E todo esse sistema artificial de extensão violenta do processo de reprodução não pode corrigir-se, naturalmente. O Banco da Inglaterra, por exemplo, entregue aos especuladores, com seus bônus, o capital que lhes falta, impede que comprem todas as mercadorias desvalorizadas por seus antigos valores nominais.

No mais, aqui tudo aparece invertido, pois num mundo feito de papel não se revelam nunca o preço real e seus fatores, mas sim somente barras, dinheiro metálico, bônus bancários, letras de câmbio, títulos e valores.

E esta inversão se manifesta em todos os lugares onde se condensa o negócio de dinheiro do país, como ocorre em Londres; todo o processo aparece como inexplicável, menos nos locais mesmo da produção."

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Preto e Branco

Li recentemente, e recomendo, "Preto no Branco - Fatos e Fotos" (Editora Photos), do repórter fotográfico Flávio Damm. Trata-se de uma apanhado de histórias vividas pelo autor, ao longo de 64 anos de profissão.
Eis um trecho:

"...Numa das saídas do aeroclube, à pouca altura ainda, na direção da igreja da Penha, o motor parou. E voltou a funcionar. Repetiu esse preocupante comportamento quatro vezes. Gritei para o piloto, querendo saber o que estava havendo. Perdíamos um pouco de altura e logo o motor voltava a funcionar. Foi quando o Lugão me respondeu, gritando a frase fatal:
- Estou avisando a minha mulher que hoje não vou almoçar em casa..."

quinta-feira, 26 de junho de 2008

E assim ele disse.

A extraordinária aventura vivida por Vladímir Maiakóvski no verão da datcha(1)

(Púchkino, monte Akula, datcha de Rumiántzev, a 27 verstas(2) pela estrada
de ferro de Iaroslávl)

A tarde ardia com cem sóis.
O verão rolava em julho.
O calor se enrolava
no ar e nos lençóis
da datcha onde eu estava.
Na colina de Púchkino, corcunda,
o monte Akula,
e ao pé do monte
a aldeia enruga
a casca dos telhados.
E atrás da aldeia,
um buraco
e no buraco, todo dia,
o mesmo ato:
o sol descia
lento e exato.
E de manhã
outra vez
por toda a parte
lá estava o sol
escarlate.
Dia após dia
isto
começou a irritar-me
terrivelmente
Um dia me enfureço a tal ponto
que, de pavor, tudo empalidece.
E grito ao sol, de pronto:
"Desce!
Chega de vadiar nessa fornalha!"
E grito ao sol:
"Parasita!
Você, aí, a flanar pelos ares,
e eu, aqui, cheio de tinta,
com a cara nos cartazes!"
E grito ao sol:
"Espere!
Ouça, topete de ouro,
e se em lugar
desse ocaso
de paxá
você baixar em casa
para um chá?"
Que mosca me mordeu!
É o meu fim!
Para mim
sem perder tempo
o sol
alargando os raios-passos
avança pelo campo.
Não quero mostrar medo.
Recuo para o quarto.
Seus olhos brilham no jardim.
Avançam mais.
Pelas janelas,
pelas portas,
pelas frestas,
a massa
solar vem abaixo
e invade a minha casa.
Recobrando o fôlego,
me diz o sol com voz de baixo:
"Pela primeira vez recolho o fogo,
desde que o mundo foi criado.
Você me chamou?
Apanhe o chá,
pegue a compota, poeta!"
Lágrimas na ponta dos olhos
— o calor me fazia desvairar —
eu lhe mostro
o samovar:
"Pois bem,
sente-se astro!"
Quem me mandou berrar ao sol
insolências sem conta?
Contrafeito
me sento numa ponta
do banco e espero a conta
com um frio no peito.
Mas uma estranha claridade
fluía sobre o quarto
e esquecendo os cuidados
começo
pouco a pouco
a palestrar com o astro.
Falo
disso e daquilo,
como me cansa a Rosta(3),
etc.
E o sol:
"Está certo,
mas não se desgoste,
não pinte as coisas tão pretas.
E eu? Você pensa
que brilhar
é fácil?
Prove, pra ver!
Mas quando se começa
é preciso prosseguir
e a gente vai e brilha pra valer!"
Conversamos até a noite
ou até o que, antes, eram trevas.
Como falar, ali, de sombras?
Ficamos íntimos,
os dois.
Logo,
com desassombro,
estou batendo no seu ombro.
E o sol, por fim:
"Somos amigos
pra sempre, eu de você,
você de mim.
Vamos, poeta,
cantar,
luzir
no lixo cinza do universo.
Eu verterei o meu sol
e você o seu
com seus versos."
O muro das sombras,
prisão das trevas,
desaba sob o obus
dos nossos sóis de duas bocas.
Confusão de poesia e luz,
chamas por toda a parte.
Se o sol se cansa
e a noite lenta
quer ir pra cama,
marmota sonolenta,
eu, de repente,
inflamo minha flama
e o dia fulge novamente.
Brilhar pra sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
gente é pra brilhar,
que tudo mais vá pro inferno,
este é meu slogan
e o do sol.

1920

(1) Datcha: casa de veraneio
(2) Versta: medida itinerária equivalente a 1067 m.
(3) Rosta: A agência telegráfica russa, para a qual Maiakóvski executou cartazes saíricos de noícias.

Extraído do livro Maiakóvski (de Boris Schnaiderman, Augusto e Haroldo de Campos)

Voltei... triste...mas, voltei.

Os últimos meses tem sido insanos. Insanidade causada por excesso de trabalho, aulas, provas e pouco tempo para meus prazeres e família. Doenças de nossa época. Época de doenças sociais...
Mas a tristeza não foi causada por isso. Este blog, com seus poucos textos de vida, tem sido uma grata alegria para mim e, provavelmente, apenas para mim. Alegria por poder desenvolver algumas idéias que há tempos estavam sendo matutadas intimamente e a simples possibilidade de torná-las universais — milagrosa esta tal de www — já me dá a esperança de não ser apenas mais um, mas de ser UM. Que pensa e diz o que pensa. Algo que em nossos tempos já é mais do que a média e, cá entre nós, a média é algo que sempre quis superar, aliás, creio que todos deveriam ter esse propósito. Com certeza o mundo seria melhor se muitos fizessem um mínimo esforço para ser mais que a média...
Mas o que me traz de volta — além de alguns poucos dias de descanso do trabalho e da faculdade — foi a constatação de que não cumpri uma das metas que me propus quando comecei a escrever aqui. E esta em particular me deixou triste.
Queria aproveitar este espaço para homenagear algumas pessoas que têm sido fundamentais em minha formação como ser humano. E uma delas completou, no último dia 14 de abril, 78 anos de sua morte. A data passou despercebida para muitos e, tristemente, para mim.
Trata-se de meu poeta favorito: Vladimir Maiakovski. Nasceu na Geórgia em 1893 e suicidou-se em Moscou em 1930.
Nunca “paguei” de culto ou coisa que o valha, não entendo de poesia a ponto de apontar esta ou aquela corrente literária que mais me agrada. Poesia para mim é algo flexível, volátil e moldável. Trata-se de palavras à procura de um receptáculo, do encaixe perfeito. E isto não depende exclusivamente de quem as esculpe, para mim além do poeta é necessário o público, capaz de compreender e sentir o que este diz. E, com este conceito que é apenas meu, Maiakovski foi o maior de todos. Para mim é aquele que escreveu da melhor forma que eu pudesse compreender e sentir. Fico grato a ele e a ele recorro quando necessário. Se acreditasse em vida após a morte, pediria perdão por esquecer sua morte, mas, assim como ele, sou um materialista histórico por isso não há perdão, apenas obrigado.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Dica do leitor

Segue uma boa dica passada por um fiel leitor deste blog (quem diria, heim...)

Conheci, através de uma comunidade sobre cinema do orkut, o site www.moviemago.com, e o achei muito interessante. O site é como uma rede de relacionamento via Internet, com enfoque em cinema (como um “orkut cinematográfico”). O diferencial é que os usuários avaliam os filmes que já viram e recebem dicas de quais filmes ver. O site avalia seu gosto e indica boas opções. Além disso, há também a possibilidade de se comentar qualquer filme, de convidar amigos para participar e ver quanto o gosto de vocês é parecido. Sem falar que qualquer usuário pode postar notícias sobre a sétima arte, ver quais filmes estão no cinema e quais estão sendo lançados em dvd. Quanto mais o usuário for participativo, passará a figurar como destaque na home page do site, estando classificado como o que mais votou, mais comentou, mais indicou filmes e etc...Fica aí a dica para quem realmente gosta de cinema!!!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Um pouco de calma

Peço aos leitores deste blog (todos os 3 ou 4...) que tenham um pouco de paciência. Este mês foi do caramba em termos de trabalho e estudo... não tive tempo de pensar sobre nada (logo não existo!?)
Prometo um esforço concentrado, neste fim de semana, para produzir mais algumas pérolas de sabedoria e cultura que prontamente postarei nesta concorrida página.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Células-tronco

Nesta polêmica sobre a permissão da realização de pesquisas com células-tronco embrionárias, li um questionamento interessante.
Se a Igreja Católica — mais uma vez cumprindo seu papel de freio de mão do desenvolvimento científico — aceita como determinante para reconhecer o fim da vida de um indivíduo (ou seja, sua morte) o fim da existência de atividade elétrica no cérebro. Por que não utiliza o mesmo critério para determinar o início da vida de um indivíduo? O que no caso excluiria as células-tronco embrionárias desta definição.

Resenha

Para os que não pegam no sono ao ler sobre as questões ligadas à cibercultura e ao ciberespaço, segue uma resenha que tive de fazer sobre alguns capítulos do livro "Cibercultura" de Pierre Lévy.

Resenha do livro “Cibercultura”
Autor: Pierre Lévy
Pgs.: 85-121

O autor afirma que a Web é um enorme espaço digital, que se expande constantemente e de forma rápida. Esse espaço virtual, embora possa parecer caótico, oferece “inúmeros ‘mapas’, filtros, seleções para ajudar o navegante a orientar-se”. (Lévy, Pierre. Cibercultura. Pg.85. 1997)
Lévy indica a existência de duas formas de navegação distintas: a “caçada” e a “pilhagem”. Na primeira, buscamos informações precisas e rápidas. Na segunda, embora tenhamos algum interesse específico inicial, estamos propensos anos desviar do caminho traçado.O autor fornece exemplos — demonstrando-os através de experiências próprias — de cada um dos tipos de navegação na Web. Com isso, Lévy quer deixar claro que a partir de metodologias distintas de navegação podemos encontrar praticamente tudo por meio da internet ou, pelo menos, informações básicas a respeito do assunto pesquisado.
A partir da leitura do livro também é possível chegar a conclusão de que a Web, além de um enorme acervo de informações, também é um espaço de interatividade, em que a “alimentação” desse acervo também depende da nossa participação.
Embora me pareça correta a definição dada por Lévy de ciberespaço, acho que ele se excede sobre a questão da digitalização, ou codificação digital, como elemento característico fundamental da Web. Embora esse seja um fator importantíssimo, não devemos nos esquecer de que é a atividade humana a mola propulsora do ciberespaço.
No livro, também podemos constatar que o ciberespaço trouxe inovações em relação às grandes técnicas de comunicação tradicionais.
Essas inovações são o acesso à distância e a transferência de dados, possibilitadas pela interconexão em tempo real de vários computadores.
O correio eletrônico permite a troca de mensagens de forma individual ou coletiva. Também é uma evolução em relação à classificação, armazenamento e velocidade com que essas mensagens são trocadas.
Com as conferências eletrônicas, tornou-se mais simples a discussão — por um grupo de pessoas — de assuntos de mútuo interesse. Essa discussão também pode dar-se em tempo real.
Quando combinamos essas ferramentas e as utilizamos de forma cooperativa, aperfeiçoamos e realimentamos uma base de dados dedicada a um determinado processo de aprendizagem, criando assim uma groupware.
A criação de mundos virtuais compartilhados possibilita a troca, de modo a afetar a sensibilidade dos participantes, criando assim uma relação sensório-motora por meio de ferramentas digitais.
Atualmente podemos verificar que a evolução da Web tornou mais fácil e acessível a navegação pelos milhões de documentos e informações do mundo digital. Cada vez menos é necessário ter amplos conhecimentos de informática para utilizar a internet. A Web está mais “popular”.
Para Lévy, a cibercultura é definida pela “universalidade sem totalidade”, ou seja, ao aceitar a todos e permitir sua interconexão independente da “carga semântica” das entidades relacionadas, o ciberespaço permite que a cibercultura não tenha uma centralização de idéias, nem uma diretriz.
No plano técnico, a velocidade da evolução e virtualização das informações são as constantes da Web. Neste aspecto é possível apontar uma contradição, pois, se é correto afirmar que a infra-estrutura técnica tende a universalizar “padrões” (com sistemas operacionais, linguagens de programação e aplicativos), essa universalização acaba por concentrar-se nas mãos de alguns poucos detentores de “nichos”. A tentativa de aquisição do site de grupos e buscas Yahoo! por parte da Microsoft, recentemente, é um exemplo da centralização crescente dessa infra-estrutura o que pode acabar influenciando essa universalidade do ciberespaço. Quando Lévy escreveu “Cibercultura”, esse processo ainda não era tão evidente.
Com uma rápida “viagem” pelas antigas sociedades de culturas orais e sua transformação com a chegada da escrita, ao autor nos conduz até a conclusão de que a escrita está associada ao universal na medida em que por meio dela há a tentativa de instaurar em todos os lugares o mesmo sentido das coisas. Cabe aqui um parênteses, pois Lévy também chega à conclusão de que a escrita é totalizante, ao que eu agregaria que pode ser totalizante, mas em menor medida que outras “mídias”.
Com relação às mídias de massa tradicionais, Lévy apresenta a condição totalizante como fundamental à sua universalização:

“Circulando em um espaço privado de interação, a mensagem midiática não pode explorar o contexto particular no qual o destinatário evolui, e negligencia sua singularidade, seus links sociais, sua microcultura, sua situação específica em um momento dado. É este dispositivo ao mesmo tempo muito redutor e conquistador que ‘fabrica’ o público indiferenciado das mídias de ‘massa’. Por vocação, as mídias contemporâneas, ao se reduzirem à atração emocional e cognitiva mais ‘universal’, ‘totalizam’”.
(Lévy, Pierre. Cibercultura. Pg.116, 1997)

Além disso, estas mídias não mantêm um canal aberto à reciprocidade com os espectadores, pois estes estão implicados “emocionalmente” no processo, mas não “praticamente”; há apenas recepção passiva e isolada.
No treco a seguir, Lévy deixa uma “janela” aberta à idéia de que no ciberespaço é possível que se “desate” esse nó da totalização, mantendo-se ainda o caráter universal, mas explicita que isso é uma possibilidade, não um fato “garantido nem automático”.

“A ecologia das técnicas de comunicação propõe, os atores humanos dispõem. São eles que decidem em última instância, deliberadamente ou na semi-inconsciência dos efeitos coletivos, do universal cultural que constroem juntos. É preciso ainda que tenham percebido a possibilidade de novas escolhas”.
(Lévy, Pierre. Cibercultura. Pg.116, 1997)

Desta forma o autor conclui que o ciberespaço é universal, mas sem totalidade. A interconexão e a interatividade permitem a comunicação transversal. Com isso, o universal não se baseia mais na compreensão de um sentido único — inerente à escrita — mas sim na conexão pelo contato, “a interação geral”.
Por fim, o autor afirma que “quanto mais o novo universal se concretiza ou se atualiza, menos ele é totalizável” (ibidem, pg.120) e que “as tentativas de fechamento tornam-se praticamente impossíveis ou muito claramente abusivas” (ibidem, pg.120). Neste ponto tenho uma divergência fundamental com o autor, pois me parece prematuro — mais ainda se considerarmos que o livro foi escrito em 1997 — que o ciberespaço e, por meio dele, a cibercultura, possam neste momento ser classificados como universais sem totalidade. Ainda são espaços em disputa e menosprezar o poder e as estratégias das grandes corporações do setor e dos governos que norteiam as políticas sócio-culturais mundiais, pode ser um equívoco que nos deixe desarmados na tentativa de garantir um verdadeiro ciberespaço, que possibilite uma cibercultura universal e não-totalizada.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A vida dos outros e a minha.

Um amigo foi assistir A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, Alemanha, 2006), filme escrito e dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck — aliás este foi seu primeiro filme — e me disse que eu deveria escrever algo sobre o mesmo. Inicialmente a idéia não me entusiasmou, pois o filme já é “velho” e muito já se falou sobre ele — foi o ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2007. Mas, como ainda está em cartaz aqui em São Paulo (Cine Reserva Cultural de Cinema, 3) e esse meu amigo é um dos poucos a ler este blog, fica aqui a dica para os que ainda não assistiram, realmente vale a pena.
Pra dizer a verdade esse é o tipo de filme que me deixa inquieto. Assisto, gosto, mas saio do cinema um tanto amargurado. Isso também me acontece com outros filmes como Adeus Lênin (Good bye, Lenin!; Alemanha, 2003. Dir.: Wolfgang Becker), Terra e Liberdade (Land and Freedom; Itália, Espanha, Reino Unido e Alemanha, 1996. Dir.: Ken Loach) e, até mesmo, o fádico O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno; México, Espanha, EUA, 2006. Dir.: Guillermo del Toro).
De uma forma ou de outra e apesar de não ser a intenção dos roteiristas (ao menos acho que não é) esses filmes me deixam com um gosto de derrota na boca. Explico...
Tanto A Vida dos Outros como Adeus Lênin se passam na ex-Alemanha Oriental um dos países do leste europeu cujos regimes deveriam ter sido baseados em igualdade de condições para todos, democracia plena, a impossibilidade da exploração do homem pelo homem etc, mas nunca o foram... muito pelo contrário, na origem, quase todos eles já eram estados totalitários. Então, vem o sentimento de derrota.
Em Terra e Liberdade e O Labirinto do Fauno o caminho é quase o mesmo, talvez mais agravado, pois as histórias se desenvolvem na Espanha revolucionária (apoiada por alguns milhares de voluntários internacionais) em guerra civil contra Franco (este apoiado por Hitler e Mussolini). Como já conheço o fim dessa outra história, também me vem à tona o sentimento de derrota.
Acho que o cinema não deveria ser visto sobre essa ótica, mas realmente não consigo deixar de pensar no que foi e no que deveria ter sido, mesmo nas fábulas.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Pílulas de fé

De tempos em tempos, instala-se na sociedade alguma discussão ligada às questões da sexualidade e das políticas anticonceptivas impulsionadas pelo Estado.
Invariavelmente, essas discussões contrapõem Estado e Igreja (isso nas sociedades onde a Igreja não é parte do Estado ou vice-versa). Um dos mais novos embates se dá em Pernambuco, onde a Arquidiocese da Igreja Católica tenta impedir (através de liminares na justiça) a distribuição gratuita da pílula do dia seguinte no período do Carnaval. A distribuição da pílula é uma ação da Prefeitura de Recife, apoiada pelo Ministério da Saúde.
Pra deixar bem claro: sou ateu de carteirinha. Isso já deve bastar pra situar de que lado do embate estou...
Não pretendo entrar na discussão sobre a eficácia ou não da pílula, nem sobre a falência das políticas públicas de controle da natalidade, muito menos da existência ou não de um deus. Meu problema é outro.
Na verdade, fico fulo com esse tipo de discussão, pois ela começa deixando de lado o pressuposto de que toda pessoa deveria ter o direito ao livre arbítrio.
Se católicos (ou praticantes de qualquer religião) não concordam com a utilização da pílula do dia seguinte (ou do uso da camisinha), que não a utilizem e ponto final! O Ministério da Saúde não está obrigando ninguém a utilizar a tal pílula, logo, usa quem quer.
As igrejas têm seus locais apropriados (catedrais, templos etc.) para convencer “seu público” da justeza de suas posições. Ao recorrer a medidas judiciais, a igreja abandona o campo da fé e se porta como uma organização/instituição qualquer pertencente à sociedade civil. Nesse caso, deveria antes de tudo começar a pagar impostos, como a maioria delas, pelo menos para deixá-la em igualdade de condições conosco, pobres mortais.
Aliás, independentemente desta discussão pontual, acho mais é que as igrejas tem que pagar imposto, mas não é porque elas se portam como uma organização/instituição da sociedade civil, mas sim por arrecadarem dinheiro como qualquer empresa, cabendo, portanto, retenção de imposto na fonte por lucro líquido presumido.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Pesquisa

Acatando a sugestão de um post anônimo e, deixando claro assim que este é um espaço democrático, aberto à todos aqueles que concordem com minhas opiniões, fica aqui a pergunta:

"Que obra do acervo do Masp vc gostaria de ter em casa?"

e adendo o seguinte:

"Relaciona-se com alguém capaz de gatunar tal obra para presenteá-lo(a)?"

Tyukanov

Nas minhas viagens via uéb atrás dos passos de Bosch (veja o post abaixo), acabei encontrando outro artista muito interessante, provavelmente influenciado por ele. Seu nome é Sergey Tyukanov e o pouco que sei dele é que nasceu em Poronaisk (na Rússia) em 1955, ainda está vivo e mora em Kaliningrado.
Ele tem um site muito interessante que permite uma visita virtual ao seu “museu”, o link é http://www.tyukanov.com/
Divirta-se, este também vale o tempo gasto!




quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Bosch

Se pensou em furadeira, se deu mal; a conversa aqui será outra...
Começo avisando que não sou crítico de arte, aliás, entendo pouco ou quase nada disso. Então, apreciar determinada obra, pra mim, sempre se baseou mais em intuição do que em embasamento teórico ou coisa que o valha.
Vejo. Gosto ou não gosto. E depois, se fiquei realmente impactado, vou atrás de informações que me ajudem a entender um pouco mais de determinado artista ou obra.
O recente roubo de duas obras de arte que estavam expostas no Masp (Museu de Arte de São Paulo - http://masp.uol.com.br/) – uma de Cândido Portinari e outra de Pablo Picasso (ambas já recuperadas) –, fez-me pensar que deveria visitar com mais freqüência este museu. Afinal, a gente nunca sabe quando um fato destes se repetirá e, menos ainda, qual a preferência artística do próximo ladrão.
Cá entre nós, se eu tivesse me bandeado pro lado dos amigos do alheio, minha velha intuição me faria levar outras obras. É evidente que não estou desmerecendo Portinari ou Picasso, os dois são merecedores de uma boa gatunagem (caberia aqui um ponto de ironia, mas o Millôr só falou dele e não o rascunhou), mas meu escolhido seria Hieronymus Bosch, artista holandês (1450-1516) também conhecido como El Bosco, que tem duas obras expostas no Masp: As tentações de Santo Antão e O casamento desigual. Acredite, depois de vê-las, você vai querer conhecer mais de Bosch.
No meu caso, aconteceu assim e, navegando pela Uéb, acabei fazendo uma visita virtual ao Museo Nacional del Prado, na Espanha (http://museoprado.mcu.es/). Aí sim o queixo cai de vez. Do mesmo artista, você encontrará O Jardim das Delícias (El jardín de las Delicias o La pintura del madroño). Sensacional! E, pra melhorar, o site permite uma ampliação bem razoável da imagem. Também vale a pena fazer o download da obra, pois os detalhes são inúmeros.
Fica aqui a dica.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Babel


De uns tempos pra cá, está ficando cada vez mais difícil de eu ler um livro de cabo-a-rabo, em uma levada só. Não sei, se o autor não me convence 100% logo no início, marco a página, pego outro livro e assim vai... Tem se tornado um hábito fazer um “revezamento literário”.
Após algumas semanas, volto ao primeiro da pilha e avanço mais alguns capítulos. Assim, ando lendo cinco ou seis livros ao mesmo tempo e, em geral, os assuntos não se relacionam. Verdadeira Babel. Talvez isso explique a desconexão entre os assuntos abordados neste blog... Tenham paciência, um dia destes retomo o foco.




quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Novas velhas descobertas.

Após quase três anos sem viajar nas férias, acabei de voltar de uma semana de merecido descanso. Encontrei no Sul de Minas um lugar paradisíaco, do qual falarei com mais detalhes em futuras postagens.
Dentre as várias ocasiões em que me deparei com cenas e fatos surreais, conto que ontem, pouco antes de retornar a São Paulo, estava à beira de uma piscina de água mineral — sim, sim, foi a minha semana de extravagâncias — quando o dono da pousada em que me encontrava começou a capitanear um CD portátil com algumas das músicas mais belas que ouvi nos últimos anos.
Aqui vou deixar a dica de uma das intérpretes. Trata-se de uma francesa de nome Mireille Mathieu. Confesso do alto de minha imensa ignorância que nunca havia ouvido falar dela. Mas uma rápida busca no google dá conta de que esta já tem vários anos de estrada e uma imensa discografia.
O CD que ouvi nessa pequena pousada chama-se Mireille Mathieu Chante Piaf; o detalhe é que no CD que escutei, ela canta em alemão (apesar de ser francesa de Avignon). Não consegui encontrar referência no google deste CD (até porque não fiz uma pesquisa muito demorada), mas há uma versão em francês igualmente boa. Pelo que entendi é de 1993 e foi remixada em 2003. Não substitui a Piaf original, mas é, igualmente, de cair o queixo.

01. La Vie En Rose
02. La Foule
03. Sous le Ciel de Paris
04. Mon Dieu
05. L'Homme a la Moto
06. Exodus
07. Padam Padam
08. L'Hymme a L'Amour
09. Mon Manege a Moi
10. Jezebel
11. L´Accordeoniste
12. Milord
13. Non, Je Ne Regrette Rien